Introdução à encíclica do Papa Francisco: Sobre o cuidado da Casa Comum
A carta encíclica
Papa Francisco, o líder espiritual de mil milhões de católicos, emitiu uma carta encíclica intitulada “Laudato si” – Sobre o cuidado da casa comum” em 18 de Junho de 2015 (“Laudato si” significa “Louvado seja o Senhor” em Italiano). Nela, ele convida o mundo a agir para deter as mudanças climáticas, proteger o ambiente e melhorar as condições de vida para os pobres, principais vítimas da destruição ambiental.
Cartas do Papa para os oficiais da igreja são escritas na antiga língua latina. Encíclicas Papais tem muita autoridade na igreja, e sempre foram tradicionalmente escritas em um estilo académico complicado, mas a nova encíclica é altamente legível e foi publicada em 8 idiomas, incluindo Inglês, Português, Espanhol, Francês e Árabe, de modo a atingir grande número de pessoas. No início de Julho, Francisco organizou uma conferência sobre a encíclica onde também convidou os líderes da ONU, cientistas, pessoas de outras religiões e Naomi Klein, autora do livro “Isso Muda Tudo – Capitalismo contra o Clima”. Em Setembro o Papa Francisco irá visitar os EUA pela primeira vez e irá falar no Congresso americano e na Assembleia Geral da ONU em Nova York, onde vai continuar a sua mensagem.
A Encíclica pode ser dividida em duas partes.
A primeira parte estabelece os problemas que enfrenta a humanidade em três capítulos:
- O está acontecendo em nossa casa
- O evangelho da criação
- Uma raiz humana da crise ecológica
A segunda parte volta-se para o que deve ser feito, o que precisa mudar:
- Uma ecologia integral
- Algumas linhas de orientação e acção
- Educação e espiritualidade ecológicas
A Encíclica começa com uma introdução onde encontramos este apelo;
“O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. …
Infelizmente, muitos esforços na busca de soluções concretas para a crise ambiental acabam, com frequência, frustrados não só pela recusa dos poderosos, mas também pelo desinteresse dos outros. …
Precisamos de nova solidariedade universal.”
O Papa nos diz que o capitalismo não é a solução. Que, na verdade, a ganância inspirada pelo capitalismo é parte do problema;
“Mais uma vez repito que convém evitar uma concepção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas se resolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dos indivíduos. Será realista esperar que quem está obcecado com a maximização dos lucros se detenha a considerar os efeitos ambientais que deixará às próximas gerações? Dentro do esquema do ganho não há lugar para pensar nos ritmos da natureza, nos seus tempos de degradação e regeneração, e na complexidade dos ecossistemas que podem ser gravemente alterados pela intervenção humana.”
Ele ressalta que a mudança climática é real;
“Há um consenso científico muito consistente, indicando que estamos perante um preocupante aquecimento do sistema climático. Nas últimas décadas, este aquecimento foi acompanhado por uma elevação constante do nível do mar, sendo difícil não o relacionar ainda com o aumento de acontecimentos meteorológicos extremos, embora não se possa atribuir uma causa cientificamente determinada a cada fenómeno particular. A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo, para combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o produzem ou acentuam.”
E nos lembra que os pobres são as principais vítimas da destruição ambiental;
“O ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto; e não podemos enfrentar adequadamente a degradação ambiental, se não prestarmos atenção às causas que têm a ver com a degradação humana e social. De facto, a deterioração do meio ambiente e a da sociedade afectam de modo especial os mais frágeis do planeta: «Tanto a experiência comum da vida quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres».”
O documento todo termina com uma oração para a terra com esta passagem;
“Tocai os corações daqueles que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra. Ensinai-nos a descobrir o valor de cada coisa, a contemplar com encanto, a reconhecer que estamos profundamente unidos com todas as criaturas.”
Sobre a Igreja Católica e a eleição do Papa Francisco
O Papa Francisco adoptou um novo estilo como Papa. Ele prefere a simplicidade a mais pompa e riqueza. Quando rezou uma missa ao ar livre na Bolívia, em Julho deste ano, para centenas de milhares de pessoas, trocou sua vestimenta cerimonial, não em um bom hotel, mas no restaurante de fast-food Burger King. Na Bolívia, desculpou-se para com os povos indígenas por crimes cometidos no passado pela Igreja Católica.
Quando se tornou Papa adquiriu o nome por Francisco de Assis, filho de um rico comerciante italiano do século 13, que dedicou sua vida para viver e pregar entre os pobres e tornou-se patrono do meio ambiente. Antes de ser Papa Francisco, foi bispo na Argentina e tornou-se conhecido por pregar aos pobres e por apoiar as comunidades indígenas.
A igreja ao longo de sua história de 2000 anos teve relações de movimento para os ricos e poderosos. No princípio, a igreja estava em oposição à escravidão do Império Romano. Era uma religião para os pobres. Em 313, o Imperador Romano, declarou o cristianismo religião do estado e perseguiu os não-crentes. Durante a Idade Média, a igreja se tornou imensamente rica e possuía um terço de todas as terras agrícolas na Europa. Quando os espanhóis colonizaram a América Latina muitos crimes foram cometidos em nome da Igreja. Sacerdotes locais, no entanto, muitas vezes estiveram ao lado das comunidades indígenas contra o Estado colonial. Por este motivo os padres jesuítas foram expulsos pelo rei espanhol em 1767 como oposição ao seu trabalho social. Em 1929, o ditador fascista da Itália tornou o catolicismo a religião do estado, e teve o apoio papal para o fascismo. Na década de 1960, alguns sacerdotes latino-americanos começaram a pregar a “teologia da libertação”. O Vaticano viu isto como uma tentativa de se esgueirar o marxismo para dentro da igreja. Vários sacerdotes foram suspensos. Em 1980, o Bispo Oscar Romero, de El Salvador, foi assassinado durante a missa, porque ele disse que ao governo militar para parar de matar pessoas. Enquanto os pobres consideram Romero como um santo mártir, o Vaticano discordava. Mas em Janeiro de 2015, Papa Francisco beatificou bispo Romero, o primeiro passo para torná-lo Santo.
Na década de 1980, a mídia começou a escrever histórias de abuso infantil cometidas pelos padres. Muitos exemplos em todo o mundo foram revelados. No pior dos casos padres abusaram de dezenas de vítimas ao longo de décadas. Os dois últimos papas foram ambos implicados em encobrir crimes sexuais. Isto reduziu muito o respeito pela igreja. Muitos vêem a eleição do Papa Francisco, o primeiro Papa latino americano, como um esforço para virar uma nova página para a igreja.